
Dona Isabel




Isabel Mendes da Cunha nasceu na Fazenda Córrego novo municÃpio mineiro de Itinga, no dia 3 de agosto de 1924. Mudou-se ainda jovem para Santana do AraçuaÃ, hoje municÃpio de Ponto dos Volantes, Vale do Jequitinhonha-MG, onde mora com sua filha.Desde a infância, dona Isabel já criava pequenas figuras de barro, imitando sua mãe que era louceira (paneleira, como é chamado na região do Vale do Jequitinhonha) e se dedicava à produção de cerâmica utilitária. Quando adulta, seguiu os passos de sua mãe e começou também a fazer peças utilitárias com o barro, as quais vendiam nas feiras da região. Dona Isabel ficou viúva, e desde então, para ajudar no sustento dos filhos, começou a modelar outros tipos de peças, como animais e bonecas de barro. No inÃcio suas figuras consistiam de cavaleiros, bois, aves e pequenos presépios, todos feitos com barro vermelho e pintados com barro branco. No inÃcio da década de 70, a artesã iniciou a produção de bonecas grandes, algumas com cerca de um metro de altura. Eram, em sua grande maioria, casais de noivos, com o homem vestido de terno e a mulher vestida de branco, grinalda e buquê de flores nas mãos, uma marca registrada da sua obra. Outra peça que ficou muito famosa, e que começou a ser modelada ainda nesta época, foi à boneca representando uma mãe amamentando. Com a procura por suas peças, dona Isabel passou a produzir bonecas com detalhes mais elaborados e caracterÃsticas próprias. Na época, uma das suas inovações foi a forma de fazer os olhos das bonecas. Antes os olhos eram apenas pintados, como ainda fazem muitas outras artesãs do Vale; dona Isabel passou a esculpir os olhos de sua bonecas em alto relevo. Outra inovação foi a utilização do barro colorido para pintura das bonecas, técnica ainda utilizada por ela e por várias artesãs do Vale do Jequitinhonha. As peças de dona Izabel logo ganharam fama nas feiras da região. Com o trabalho de divulgação/ comercialização realizada pela CODEVALE (Comissão do Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha) no final da década de 70, tornou-se muito valorizadas também em feiras nacionais e internacionais. Com a notoriedade alcançada, a artesã deixou de lado a cerâmica utilitária e passou a se dedicar apenas à s suas bonecas. Casal de noivos, mulheres amamentando, rituais de batizado são algumas das peças mais famosas feitas por dona Isabel. Todas essas bonecas eram vestidas com roupas de festa, feitas com capricho e com grande riqueza de detalhes, caracterÃsticas presentes até hoje em suas peças. Dona Izabel teve quatro filhos: Amadeu, Rita de Cássia, Maria Madalena e Gloria. Com o aumento da demanda por suas peças, toda a famÃlia se incorporou ao trabalho com o barro. Dos quatro filhos, apenas Rita de Cássia não trabalha na arte do barro.A filha Glória e seu marido João Pereira de Andrade são ceramistas renomados atualmente e já iniciaram suas filhas na arte de modelar o barro. Maria Madalena mora ainda hoje com sua mãe e a ajuda na produção de suas peças. A escola de cerâmica iniciada por dona Isabel inclui, além de sua famÃlia, várias outras artesãs de Santana do AraçuaÃ. Entretanto, o principal seguidor desta escola é seu genro, João Pereira de Andrade, que se tornou seu sucessor natural.
Dona Isabel e suas Bonecas
A Associação dos Artesãos de Santana do Araçuaà mantém uma loja onde são expostas as peças de todas as artesãs da região. Na sua maioria são bonecas, galinhas, vasos e flores de cerâmica. Atualmente as bonecas de dona Isabel são peças altamente valorizadas no mercado da arte. Entre as artesãs do Vale do Jequitinhonha, ela é a que cobra mais caro pelas suas peças e mesmo assim existe uma longa fila de espera. Com o dinheiro adquirido ao longo dos anos, ela conta que sua famÃlia melhorou muito de vida. Hoje eles moram em terras próprias, nas quais foi construÃda uma casa ampla para dona Isabel morar com sua filha Maria Madalena. Porém, a artesã continua a usando o velho ateliê, onde estão os velhos fornos de cerâmica que a acompanham desde longa data.​
Morre Dona Isabel, artista do Vale do Jequitinhonha
Morre no dia 30 de outubro de 2014, em Santana do AraçuaÃ, no Vale do Jequitinhonha, Dona Isabel, a bonequeira mais famosa de Minas Gerais.
Aos seus 90 anos, a artista não resistiu ao câncer, diagnosticado há três meses.
Mãe de quatro filhos, ela recebeu vários prêmios, como o Unesco de Artesanato para a América Latina (2004), a Ordem do Mérito Cultural (concedida pelo Ministério da Cultura, 2005) e o Prêmio Culturas Populares (Ministério da Cultura, 2009).